terça-feira, 27 de abril de 2010



Intervenção no Arrudas - Usofruto

O rio Arrudas, em Belo Horizonte, está a cada dia sendo mais e mais enterrado em câmara mortuária de concreto. Sua lápide, out-doors que fazem menção a uma tal de linha verde que ninguém consegue perceber, nem sequer a intenção da cor.
Seus trechos que ainda podem ser observados ao ar livre mostram o quanto o rio assimilou toda a desorganização do crescimento da cidade. Desde o início do povoamento vem sendo castigado como depósito dos descartes humanos de todos os tipos - e aqui o eufemismo é óbvio. Para muitos, longe de um rio, não passa de coletor de esgoto da cidade.
E quando essa degradação é percebida, qual o movimento que produz? Muito antes de recuperá-lo, enterram-no como se nunca tivesse existido... e colhem os efeitos catastróficos desse disparate tanto no ponto de vista da paisagem, quanto no que diz respeito às enchentes recorrentes após as chuvas em pancadas.


Para recuperar o rio Arrudas como elemento indissociável da cidade de Belo Horizonte, há que recuperá-lo na lembrança e no desejo daqueles que passam por ele e que o percebem apenas como moldura mal arranjada de uma avenida. Toda a gente, tanto os que o frequentam como transeuntes obrigatórios entre estações de metrô e as rodovias, quanto os que não o frequentam precisam ser convidados a reconhecê-lo como rio... como lugar de possível convivência.

A intervenção urbanística proposta para tanto é a de aproximar os pedestres do rio sem cobrí-lo como o concreto da linha verde vem fazendo. Através de um deck que faz meandros, o objetivo é convidar quem por ali passa a se defrontar com o rio e não evitá-lo. Mais ainda, procura estabelecer o conceito de unidade de convivência, ou, como o projeto se nomeia: unidade de USOFRUTO.
Aposta-se muito aqui no poder que um pé de fruta (laranjeira nesse caso), com sua sombra, seu perfume, a umidade que traz ao ambiente, e as frutas doces e gratuitas, como transformador do cotidiano deste espaço, como fomentador da unidade de USOFRUTO, pequeno trecho do rio Arrudas que pode ser concebido e usufruído como já pode assim ter sido em algum momento do passado da cidade.
Se o resultado for de assimilação e aproveitamento da oportunidade, o resgate de mais trechos do rio, ou quem sabe todo ele, pode passar de uma utopia a uma reivindicação social.




sábado, 17 de abril de 2010

Unidades de Convivência
Não sabemos se Belo Horizonte
Quando ainda era arraial
Já viveu época em que estranhos
Ainda poderiam deixar de serem estranhos
Por um simples e fortuito encontro
Na saída da casa para o trabalho
Ou na ida e vinda da venda.
Não sabemos se a cidade germinada
Freqüentava muito os seus rios.

O rio Arrudas, por exemplo,

Será que pescavam nele?

Será que se assentavam debaixo

De uma frondosa árvore rodeada de crianças?

Será que aproveitavam o tempo da melhor forma possível:

Deixando-o passar?


Queremos acreditar que sim,

Pois é isso que pensamos para a Belo Horizonte de hoje.
Uma cidade que certamente seria mais feliz
Se privilegiasse a convivência.

Pensando no que um rio, uma árvore e a sombra que cria
Podem oferecer ao tempo e ao espaço da cidade
Consideramos esta, uma unidade de convivência.
A intervenção no Rio Arrudas, hoje canalizado, concretado
Busca exatamente o reverso do cimento acinzentado,
Dar dignidade ao ímpeto de convivência Na alma por hora também concretada
Dos cidadãos belorizontinos.

Árvores frutíferas
Aos cuidados dos moradores de rua
Que podem usar das frutas (usofruto!)
Para consumo próprio ou para fonte de recursos.
Manga, abacate, banana, laranja, mexerica,
Mamão, jaboticaba, transformam-se em sucos, vitaminas,
Bolos, tortas, geléias, recheios...
Frutos das unidades de convivência.